sábado, 25 de dezembro de 2010

The good(byes)news

Fechei com força aquela mala enorme de rodinhas desgastadas de uns bons 7 anos atrás e a coloquei de pé no chão. Eram os últimos dias, e eu deveria me certificar de que todos os papéis rabiscados e muitíssimo bem amassados já estariam suficientemente presos, perdidos em pedaços desiguais e zipados pra sempre em meio ao mofo macio predominante ali dentro.

Lembro-me de ter escrito uma mesma frase várias e várias vezes.
Na primeira, rabisquei.
Na segunda, amassei.
Na terceira, rasguei em mil pedaços.
De alguma forma, prometi que iria sair - Assim como tantas outras coisas, do começo, que acabei tão facilmente deixando pra trás, de uma forma sutil que aprendi.
Aprendi de verdade por esses dias quentes. E principalmente durante os gelados. A mudança de clima costuma ser saudável, mesmo quando inesperada.

Deitei de pernas para a cabeceira, segurando insegura e, quase com saudade, a alça, enquanto previa a madrugada. Fazia tempo que não amanhecia tão claro.

O final (ou o começo, numa visão mais esperançosa), estava cada vez mais próximo e eu, apegada, o adiava inutilmente em devaneios internos, onde tudo era estagnado e ridículo.
Eu sabia do necessário, mas não escondia com totalidade meus receios. Esses mesmos de sempre, os receios, malditos receios, que nunca se vão por completo.
Costumam permanecer durante mais algum (curto) período. Pelas vezes que vivenciei, eu digo. Não é nada regrado. Receios descontrolados.

Por mais um minuto, não resisti e reabri a mala. Olhei pela última vez todas aquelas letras perdidas, escritas com força e com fraqueza; Implorando para algumas que logo fossem embora, enquanto, para com outras, lamentando sua inevitável partida.
Por dentro, a mala cheirava a perfume e pêlo de cachorro. A cansaço e chuva. Algo quente.

Me demorei a fechá-la novamente, diferente de como fiz no início. Minha determinação, afinal, balançando diante do incerto. Como sempre foi, mas talvez, agora, com uma colher, mesmo uma colherzinha de chá, de tranquilidade. Algo passava súbito pela minha cabeça e por entre meus órgãos enquanto fechava toda aquela bagunça de lembranças, tombos e aprendizados. Toda aquela mistura de odores e texturas. Tudo aquilo, sendo levado para outro lugar.

Deixei um vão do tamanho de um palmo, aberto entre os zípers. Algo ali dentro ainda seria (muito) utilizado. Sorri enquanto tremia ao olhar para a mala, iluminada agora apenas pela luz sépia do abajur.
- Boa noite. - disse, para algo que já foi, ou para algo que está por vir, ainda com os lábios retorcidos num meio sorriso.

E apertando o interruptor, esfregando a borracha ou, simplesmente, fechando o zíper de uma mala, apaguei.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Presa à minha eterna neblina, onde distraem-se o bonito e o sujo.
Se distraem e se corrompem.
Se misturam, solteiros.
Se terminam.
Sozinhos, amarrados um ao outro, como tantos.

Estima-se grande demora para que se possa evaporar
e clarear toda a fumaça.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Manual de instruções

Não sei iniciar.
Pode parecer besteira, como em um começo de conversa, um começo de programa ou um começo de texto, fácil e cotidiano. Acontece que eu não sei.
Não consigo iniciar quando tudo o que já estava em seu devido lugar é arrastado para todos os lados, transformando em caos - na minha velha percepção dramática - aquilo que eu mesma, com o tempo, havia organizado de maneira que eu sempre pudesse achar quando precisasse.

Poderia ser simples, é bem verdade. Como se, apertando um botão localizado ao lado esquerdo da tela do computador, todas as possiblidades aparecessem, se abrindo num leque de opções de diversas cores, esperando serem escolhidas através de mais alguns cliques.
Só que o que aprendi, ou melhor, o que me fizeram aprender - não me pergunte nem tente adivinhar quem, eu já busquei por inúmeras tardes chuvosas (aquelas nas quais sentimos que, ao deitar, tudo parece vibrar em um tom mais cinza, úmido e pensante) e lhe digo: Não cheguei a resultado suficiente algum! - é que as opções que nos sorriem durante nossos cliques involuntários e um tanto mais pesados, vêm recobertas por uma espessa camada, nada agradável, chamada por aí de dificuldade.

O fato é que, assim, não sabendo iniciar, me jogo no impulso cru e desprovido do estudo supostamente necessário que possuo - e enfio esse 'supostamente' por se tratar do meu subconsciente, que acha que pensa por si - de conseguir uma resposta, insistindo em prosseguir dessa minha maneira nada ensaiada e não tão convencional, se repararmos nas circunstâncias, a buscar um algo sobre o qual eu nem saberia dissertar.

Fico em cima do muro quanto à virtude que essas tentativas podem levar a surgir, então deixo clara a participação de alguns de fora, de visão menos embaçada, que me levaram a pensar na possibilidade de algum sucesso, e a não chegar, mais uma vez, a uma opinião formada.
Me diga você, então, o que acharia se visse uma situação como essa... Talvez até já tenha visto, não me parece ser algo assim, tão incomum.
Será?

Um sorriso no rosto, algumas palavras simpáticas e a expressão de calma e suficiência na face, como quem diz 'está tudo sob controle e eu gosto de você!'

De que outra forma poderia agir, afinal?
Não sei iniciar, eu já disse, mas pretendo finalizar alguma coisa, seria o mínimo a se esperar.
Confesso que achei que era melhor com finais... E agora me deparo com um texto bíblico em seu tamanho, de idéias jogadas e reprimidas, períodos imensos e uma conclusão não escrita, a qual se mostra presente dentro de alguma caixa empoeirada da minha memória, mas que teima em se submeter ao resumo de linhas a esperá-la, já impacientes.

Não sei iniciar.
Não sei finalizar.
Tenho medo do que está por vir, é verdade.
Me conformo, afinal, com o fato de que nada me resta além de continuar absorta nos dias de chuva, sem buscar e sem pressa: Esperando, sem premeditações, o momento impulsivo, o momento vazio daqueles sentimentos repressores e ansiosos, para me jogar, por mais vezes, em tudo aquilo que espera me amedrontar nos próximos verões.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

"It looks like the end of history as we know...

...It's just the end of the world".

Não era apenas o reflexo do sol cansado daquelas tardes perenes que batia na janela, como quem procura algo impossível de se ter de volta. Havia mais, alguns outros tantos motivos por que ficar. E por que sair correndo dali.

Respirou de volta, pela garganta, todas as fumaças de todos os cigarros usados naqueles dois últimos anos, enquanto olhava absorta pelo vidro empoeirado.
- Acabou, afinal. - Foi o que lhe disseram, uma semana atrás, com um sorriso aliviado nos lábios, como se fosse fácil.
Como se fosse fácil!

Tentou se concentrar em movimentar os olhos, tirando-os, assim, da inércia por alguns poucos instantes, mas o duro fardo de segurar sobre as costas todos aqueles pesados dias por uma última vez, lhe encobria da mais fina camada de vergonha, alívio, receio, alívio, medo, alívio - e lhe petrificava o olhar.
Podia respirar, enfim, longe de tudo o que mais lhe incomodava - palavras suas - embora parecesse, esse fim, o mais incerto - mesmo mais que aquele começo.

Era ainda mais do que uma inércia, o que se observaria - se alguém parasse para observar - ali, naquele lugar onde encontrava-se metade janela, metade vida. Era um retroceder de horas, de momentos até então guardados para nunca serem relembrados, onde cada sentimento voltava à tona, como se de fato revivesse, como se gostasse.
Como se... gostasse.

Piscou os olhos por mais uma vez, sentindo-os arder de tão secos.
Nenhuma lágrima caiu, mas algo pulsava doentio por dentro, como se, em algum pedaço, em algum instante, algo fizesse sentido, afinal.
Como se gostasse.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Casualidade de um telefonema escrito.

- É que a gente precisa se encontrar, sabe como é, muito tempo sem conversar me deixa assim, meio arrastada.

- Assim que a sopa esfriar, prometo que chego aí.

- Ah! Não se esqueça do açúcar! Muito açúcar e muita canela.

- Você e essa sua mania... Cuidado com os excessos, menina. E a canela, é mesmo necessária? O gosto já é forte sem ela.

- Gosto mais porque fica exótico. Adoro coisas exóticas.

- Adoro papos sem fim... Assim, filosóficos. Você está assim pra mim, hoje.

- Estou assim, como uma conversa? E sem um fim?

- Está assim, como eu gosto. Por isso que às vezes fico de saco cheio de você.

- Pois então alegre-se: É recíproco!

- Não gosto dessa palavra. Sempre me perco nela.

- Às vezes me perco em palavras também... Mas é nelas que sempre acabo por me achar.

- São tão detestáveis.

- E amáveis, na mesma linha.

...

(E por aí vai)

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Contato

"Somos tão subordinados, por acaso estamos de mãos dadas sem nos conhecer"

Estar sozinha ou rodeada de muita gente em um trem não tem diferença. Ninguém prefere que haja mais um corpo ali.
Não que as queiram mal, eu digo, as pessoas, não as querem mal, não é isso. Apenas esperam que esta ou aquela logo se levante para sentar em seu lugar.
A verdade é que a verdadeira caridade da 'bonita ação para com o outro' não existe, a menos que a verossimilhança esteja como estampa nas caras feias dos demais, coitados, sentados ao lado, julgando todos os 'maus atos', e as 'más vontades', e as 'faltas de ética' que ali se procedem.
Como quando a questão que pára os olhares de todo o vagão é a que envolve ceder o assento àquela senhorinha cheia de sacolas, e tão bondosa.
Diferente de todo o resto dos intrometidos ensaiados.

"Todo dia enfileirados em ordem decrescente de importância social"

O segundo, o da noite passada, cada vez mais remoto.
O terceiro se esvaindo, num desgaste diário de horas contadas e dias curtos.
Alimentando e finalizando a cadeia daqueles mais de quinze carimbados, fotografados e entulhados carinhosamente em uma caixa de sapatos encapada com recortes amarelos, que dão a ela um certo tom nostálgico.
É o tão falado "Começo Do Fim", chegando agora, em passos rápidos.

"Sábios são aqueles que se encontram fora de alcance, preferiram simplesmente se ausentar"

Através de números e truques sortidos, a cor parece vagarosamente voltar para dentro do corpo. E mais que isso.
Até então, inconfessável gesto, mas, é verdade, minhas próprias íris, minhas próprias pupilas, que falam por si, elas não me enganam, nunca me enganam. Nunca me enganaram.

Digo então que te quero bem.
Quero-nos bem, é isso.

"Não se precipite, neste precipício todos vão cair.
Nós não temos medo de cair".

uma idealização.

O tênis vermelho esfarrapado, a camiseta relatando em letras grandes a grande cidade de Nova Iorque. Os braços de veias saltadas terminavam com um grosso livro nas mãos.

- Bonitos óculos. - Ela disse ao menino, ainda a analisá-lo.
- Obrigado.
- O que você está lendo?
- Nietzsche. - e levantou o livro na altura do rosto
A menina sorriu, deslumbrada.
- Estou apaixonada. - E entregou-lhe um post-it com o número do telefone.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Gotas verdes cor de mel.
Respingando ao som do ventilador.
Lá do alto da roda gigante.

Fale olhando em meus olhos.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Ilustríssimo texto pobre

Interesse plastificado, um retrato mal colocado, mal colado, torto.

Gostaria de ter as palavras certas nas horas certas, e só isso - mas essas minhas já velhas conhecidas fazem questão de brincar, soltas e pobres, nos meus devaneios.

Me surgem de um ímpeto até hoje desconhecido, e rolam aleatórias formando um contexto aceitável, em olhos alheios que, na verdade, nada sabem, nada entendem.
Mas é assim que acontecem, e aparecem quando bem querem. Criam seus shows improvisados e recebem daqueles que as assistem, com prazer, os seus sinceros aplausos superficiais - embora de tamanho valor para um ego maltratado como o meu.

Então, por agora, me digam. Me mostrem, me impulsionem a um algo de fato desconhecido, tudo bem, talvez não tão desconhecido assim, mas singular, na maneira em que é único por si, um fato conhecido, mas novo, de uma outra forma, de outras características, de outros sentimentos.

Sentimentos... Como eu, eu própria, poderia falar deles? Nem ao menos sei o que me surge oscilando de dia em dia, por dentro, por fora, não sei!
E nem me atrevo a tentar saber, sobre os meus, sobre os seus, sobre os deles, tamanha frustração qual não receberia...!

E em períodos longos demais - já diria a corretora - me perco outra vez, na mão pelas mesmas de sempre, essas mesmas ingratas de que tanto falo, e que tanto comigo faltam, em momentos como hoje, em momentos como sempre.
O ideal em suas férias integrais.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Ópera de Machado

Começo assim, como começaria em qualquer palco, uma peça ao público, sem cortinas, sem sapatos, sem receios. Somente as meias.

Um salto em direção à platéia, aos desconhecidos, aos amantes, aos queridos, aos críticos e ressentidos, aos tantos e tantos, em cantos, em solos, sozinhos, calados, à espera. Envoltos em uma expectativa, uma qualquer, uma expectativa, sem perceber, de qualquer beleza, de qualquer sujeira, de qualquer ruído, de qualquer, de.
Uma expectativa de.

E entre relógios barulhentos pernas inquietas suspiros mal contidos bocejos óculos sendo postos em-seus-devidos-lugares papéis de bala garrafas de plástico esmagadas pigarros espirros mordidas suor, forma-se a pausa - em meio à abdicação dos ponteiros e a respiração que se prende.
No fim, que é o começo, é tudo som, luz e brilho.

Um correr silencioso sem marcações, um leque de cores, em meio à dança, aos vestidos volumosos, ao efeito da luz que quase cega, para depois abaixar-se, reduzir-se a um pálido cômodo, que intimida, que relaxa, que faz pulsar os músculos e os olhos, em meio à vibração, às cores fortes, às pálidas, à interação de cada gesto, de cada fala, de cada sopro.
O lirismo do momento.

Por toda a noite quase nem sentida, por todo o espaço. A música, a literatura e o teatro, juntos em uma só voz. Em um só corpo.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Sobre 29/09 (e mais tantos outros dias)

Toda grande alegria vem seguida de um grande chute na cara. E tenho dito.
Assim mesmo, como frase de efeito, como clichê. Como verdade provada e reprovada por mim mesma.

Há uma hora, eu estava repleta da mais verdadeira vontade de escrever sobre tudo o que me parece bonito, falar sobre detalhes de cor e de pele, de momentos únicos, íntimos, felizes, completos - por todo o intervalo de tempo, aparentemente minúsculo, em que ocorrem.
E então me ocorreu a percepção da minha talvez-até-demais felicidade progressiva, da minha redenção-ingênua-e-repetida àquelas palavras cuja origem me era proibida de sentir há um tempo (um voto de proibição de mim para mim).
Uma junção de sentimentos em uma mistura muito rápida, deslizante e quase incontrolável, de brilho, clareza e tranquilidade.
Uma daquelas definições que nunca sai perfeita, já que é abstrata, e, se me permite usar mais uma vez um outro clichê, indefinível.
Talvez tenha se formado, dentro de mim, essa ilusão de que todo o lixo, antes (durante e depois) amontoado no canto do quarto houvesse de fato sumido, se transformado, sublimado (!), devido a esses minimicro efêmeros momentos, especialistas em deixar a realidade para mais tarde.

E agora, aqui estou, em mais um papel molhado de linhas rabiscadas onde o assunto principal não passa do mesmo de tantos dessas tantas páginas: Minha angústia, meu desespero, minha queda.

Algumas pernas colocadas à minha frente, para que me aconteça tropeçar e enfim acordar, de novo e de novo - o quanto for necessário, por todas as vezes que estiver indo longe demais. Longe demais do foco, me rendendo ao surreal inventado, elevado e multiplicado. Pois que seja assim estabelecido, mas que eu não me deixe esquecer uma esperança ínfima que ainda existe dentro de mim: a que almeja que esse assim decretado ciclo não prossiga para todo o sempre, e amém.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

"Geração café e cigarros"

"Haviam chegado a um ponto em que verbalizar morcegos poderia arruinar tudo, mesmo que nada houvesse a ser arruinado. Mesmo que sequer houvesse morcegos."

É o que se pode esperar de um feriado cinza como esse. Terça feira, veja só, e com cara de domingo. Um domingo amargo, mais que café, mais que cigarro. Durou pouco.

Tudo culpa da cor. Um domingo cinza assim, e uma fotografia tão colorida, pra quebrar toda a moldura. Dessa vez, não escorreu só pelas paredes.

Como pode, me diga então, como pôde? Viver assim, num passado de "espinhos pra enganar o coração". É de minha índole, é sim, e assumo o que vier de reclamação.

Sei que conhece essa música: É longa, rasgante até. A tenho ouvido há alguns dias indefinidos, embora a tenha conhecido depois, é verdade. Pena não ter dado tempo - pena não ter sido eu quem lhe batia à porta para mostrá-la.

Hoje esvaziei mais um daqueles meus muitos frascos guardados de saliva. É que são tantos, que têm dias que o acúmulo me obriga a quebrar com força no chão algum mais sensível.

Sentimentalismo. Isso sim é que é uma merda.
"Ela é mais sentimental que eu, então fica bem se eu sofro um pouco mais".

Que se afundem os sentimentais. Sentimento sem açúcar, gosto de estragado.
Que se afundem, mais que eu, nesses copos sujos de água e limão, pra passar a ânsia - e formar mais um frasco pra aumentar a coleção.
.

"Entre duas palavras quaisquer, era capaz de deter-se para tomar providências objetivas, tipo esvaziar cinzeiros trocar discos servir bebidas abrir janelas para fechá-las em seguida, rápido, para que os morcegos não entrassem."

sábado, 4 de setembro de 2010

- Não gosto de pessoas assim. Não gosto de gente que pinta o cabelo de roxo, nem de gente que se pinta de cinismo. Essa é que é a verdade, te digo, as pessoas me irritam, não gosto de pessoas assim.

...

- Você está calado, fale comigo, o que acha?

- Eu não gosto de alface.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

"então eu lhe pergunto sobre o amor, ele me é franco:
me mostra um verso manco
de um caderno em branco
que já se fechou."

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Sei lá, as coisas parecem não andar de repente.
Me digo isso por vários dias - se não por todos os da minha vida.
Meio radical, eu sei, considerar toda uma existência, ainda mais de relativo pouco tempo. Mas é o que observo, uma análise impessoal: Própria! Como se por dentro sempre faltasse algo maior, menor... Tanto faz! Só precisa estar faltando alguma coisa útil. importante. necessária. im-pres-cin-dí-vel!
Minha essência, sempre uma peça a mais, a menos. Oito ou oitenta, é essa a definição.
Cólera, me falta umidade.
Insatisfação.

Algo como uma reafirmação

Gosto de escrever sobre as coisas que acontecem, relatar os fatos, descrever as cenas, os diálogos.
Me utilizo daqueles detalhes mais bobos, guardo palavras, entonações e formas de olhar.
Só não sei se escrevo por hábito, por que admiro o todo da minha observação, ou se deixo tudo guardado pra, quem sabe um dia ler, e ter a certeza de que as coisas aconteceram de verdade.
-

É muito fácil sorrir pelo acaso do encanto de novas eras.

domingo, 15 de agosto de 2010

"Ei, idiota" - Era a única das muitas formas de chamar atenção que pôde ler - esta, na forma de uma mensagem encontrada na caixa de saída.
- Ele não me atende, não responde meus recados, ignora minhas mensagens. Ele não liga pra mim, e é por isso que gosto dele.

Uma pausa.
Mil cores e confusões, trocas de cena, de cenário. Bem assim, como uma peça mal ensaiada, mas de desfecho mais que significativo.

A carta lida com os olhos de choro, de raiva:
"O tempo passou, percebi que não é mais você. Nossas conversas não são mais tão fundamentais, como são as minhas com ele. A presença dele já é acima da sua, e eu preciso estar perto dele, muito mais do que preciso de você. Pensei um dia em reverter, bobagem. Descobri que ele é ainda muito mais interessante. Mais importante. Estou indo atrás dele, não me espere mais."

O sentimento que já nem soube explicar - ou não quis demonstrar, sequer para si.
O vácuo do momento, do resto dos dias.
Não quis mais conversar.
Acendeu o isqueiro, queimou a carta.
Se entregou ao sono mal dormido outra vez.

Surto psicótico das onze da manhã

Na maneira como se formam as palavras na mente, se englobam por uma grossa corrente por onde correm desenhos de cores, dores e música. Desenhos que dançam no meio de outros desenhos que ali se formam, entre estradas sinalizadas, caixas de correio, bailarinas na avenida, flores murchas voando no céu.

Vão todos correndo, palavras e desenhos, em linhas curvas formando um algo reto, e se jogando ao final da folha, fechando a corrente, preenchendo o espaço daquele que não voltará jamais a ser branco, o precipício rabiscado.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

no meu ateliê programado, no meio dos trapos e costuras, recortes batidos e manchados com café.
minhas cócegas pelo estômago, minhas próprias construções
que são minhas, e só minhas.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

"Classificados, tapetes, pratos, passos largos e
embaraçados.
No caminho asfalto, comendo poeira e vento
Jogando álcool e fósforo
na direção do seu portão."

quinta-feira, 29 de julho de 2010

cicatriz

Não sei, não sei mesmo dizer o que me dá.
Me vem de repente, ou sei lá se permanece sempre aqui por perto, encoberto, e eu é que de repente me vejo revirando tudo em algumas partes do dia.
Às vezes me caem nas mãos todas as perguntas do mundo, vindas daquelas mais presentes inseguranças. Presentes, por tudo o que tem passado, que têm, que possuem um passado.
Mais que passado, já apodrecido, mas remendado, ou sei lá o quê, costurado, tatuado...
Aquele tipo de tatuagem espontânea, que você nunca quis, mas que foi colada lá, e que é tão difícil de tirar. Até mais do que se pensa, numa análise impessoal.
Eu nunca me senti tão desgastada por sentir medo do que possa vir.
Nunca tive problemas na questão 'entrega', ainda mais de forma intensa, como sempre foi tão simples surgir de mim.
Hoje me existe como um esforço enorme.
E eu daria todas as minhas forças para me sentir em paz de novo.
Arrancar isso de mim.
Me sentir gente. Uma gente com a mínima, que fosse a mínima tranquilidade.

domingo, 18 de julho de 2010

É que é tanta gente procurando por algo que nem conhece!
Buscando um sei-lá-o-quê tão idealizado, e remoto.
Sem o controle, dessa vez. Muito mais complicado!

Tanta gente, ao mesmo tempo, sem nem saber.
Sem fazer ideia, sem entender, só aguardando.
Apostando!

Mais algumas tantas apostas a encarar por essas esquinas.
Haja disposição para enfrentar o 'cada dia'!

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Neblina

Na hora exata de um dia ideal, construído com xícaras de açúcar.
Sombreado num tom de azul, mais claro ou mais escuro, momento sim, momento não.
Um momento para reflexão. Pausa, meditação - toda essa coisa mística que na realidade nem existe dentro de mim.
Existe mesmo aquele bom e velho trânsito matinal (que às vezes aparece também à noite.) Fumaça, Palha, Feno e Aço.
Todos mastigáveis, para fortalecer os dentes. "Só pra exercitar."
Mais algumas curvas à esquerda, passando as placas, a tal da contramão.
Pista cheia. Cheia da mais bonita neblina.
Ilusória, abstrata, bonita Neblina.
Me faça o favor de sumir daqui, então, comigo nas mãos.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Desaprendi a escrever sobre como eu gosto do abstrato que é certo, do olho no olho, do fio de cabelo. Desaprendi a cantar todos aqueles versos, os descobertos e os decorados, e aqueles trechos, e aquelas palavras, e...
Desaprendi próprias palavras, arranquei cotidianos, morri com aquela coisa embaraçosa, e até desconfortável, esperada. Isso mesmo, morri com o previsível.
Nunca achei que fosse dizer isso um dia, mas me parece tão estranha essa aparência renovada, varrida, colocada em baixo do tapete.
Poeira escondida, talvez. Esquisito, até pra mim.
Até quando?

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Aquele gélido fim de tarde fazia-lhe tremer por completo - bem que lhe avisaram da queda de temperatura que se seguiria pelo dia.
Os dedos frios nem se moviam, e os braços procuravam desesperados, entre eles, por algum calor. As pernas não paravam, embora estivesse, a própria menina, sem se mexer um centímetro.
Calafrios e tremores incessantes. Era mesmo obra do vento?
Não sabia.
Também, não importaria, já que em poucos minutos estaria aquecida, em sua pretensão.
Assoprou entre os dedos das mãos fechadas em punho, e tocou mais uma vez a campainha, desenjando por um segundo que não houvesse ninguém.
Mais um, dois...
três segundos contados, e a porta se abriu.

- Entre - ele sorriu.
- Tem certeza de que não vou incomodar? - "não, vá embora, vá embora!"
- Claro que tenho. E você também não me parece muito confortável aí, do lado de fora. Entre logo, anda. - ele parecia ansioso. Como se esperasse por algo. Como se esperasse não apenas por ela, mas por todo aquele momento, já há algum tempo.
- Mas e quanto à...? - desejou ser entendida e não ter que continuar a frase.
Sabia que funcionaria, estava explícito na forma como falava e como gesticulava.
"Menina estranha."
- Ah, não se preocupe. Ela já foi embora, não há mais o que temer. - e estendeu a mão, envolta por uma luva de lã.
Pensou mais uma vez em hesitar, mas não faria sentido. Já estava lá.
"Não há o que temer, não há o que temer, não há..."
Em passos rápidos, entrou quase que tropeçando no degrau da porta.
Entrou mesmo, e de uma vez, temendo.
...

segunda-feira, 10 de maio de 2010

(in)diferença

Todo aquele colorido típico de final de semana escorreu pelo gélido muro de mais uma segunda-feira.
Não é só o trânsito de todo início de semana, não são os atrasos ou as camisas abarrotadas. Não é aquela mistura desgostosa dos perfumes femininos a correr de um lado para o outro, nem aqueles suspiros, cansados desde cedo, embora já apressados com um copo de café na mão.
Não, não são nem os tropeções, nem os pulos, nem as esbarradas pelos cantos.

Tem algo a mais subestimando a segunda-feira! Algo que supera o cheiro de menta com tabaco, mas perde para as buzinas enlouquecidas em frente ao semáforo.

E em meio à tudo, é tudo puro silêncio, calado pelos gritos dos odores - de todos os tipos, tamanhos e embalagens. Desde os entorpecentes - particularmente, os mais usados - até aqueles amargos, os famosos 'reviradores de estômago', que deveriam ser proibidos e extintos de todas as prateleiras do mundo!

Ainda no caminho, são estancadas as solas gastas nos pés de quem anda, corre, voa!
De quem espera, aguenta, caminha, deita... Respira.

Estancado o ritmo completamente descompassado de quem não quer perder a hora.

Na verdade, eu descreveria não só essa, mas todas essas segundas-feiras como sendo mais um vício cotidiano.
Um vício em uma rotina suplementada por algumas gotas ácidas e comprimidos para dormir bem.

Uma feliz boa noite para nós.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

isso é o que dizem das mãos sujas
o que dizem do hoje meio torto, mal-enquadrado.
já pedi, longas vezes, para arrumarem essas cortinas desajeitadas.
é que, quando se é empregado, é tão mais difícil seguir ordens!
deixar quieto, livre, por si só...
é cada uma que eu tenho que ouvir.
mastigar.

me recuso a engolir.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

nasce no interior do corpo, escondido por trás do estômago, e vem crescendo, brincando, tamborilando como dedos nos cantos, nas paredes, crescendo, se apossando de cada espaço, formigando, subindo, massageando e subindo, pela barriga, pela garganta, crescendo, formigando, subindo!
uma imensa e irregular vontade de gargalhar,
de rir de tudo,
é!
que me faz cócegas pelo corpo, até a garganta, assim!
mas que vontade súbita de gargalhar!

quinta-feira, 22 de abril de 2010

à querida sanidade

risadas, olhares, conversas, abraços, telefonemas, sonhos, pesadelos, o acordar em meio ao real.
os fogos, as faltas e os pênaltis - aqueles errados, que batem no travessão.

a chuva quente, que inunda o corpo, em uma roda de dança incessante.
contínua, incessante
constante
não pára, a roda
não pára
e
me
en
lou
que
ce.

terça-feira, 20 de abril de 2010

parênteses

talvez seja o contrário.
o propriamente dito amadurecimento: o resfriamento das mãos em dias quentes.
É, e o que se tem a fazer quando, de repente, de um sentimento inativo - apenas lá, reguardado, intacto e muito bem coberto para (evitar) o atrevimento de ressurgir em alguma ocasião repentina - ressoa pela sala, ecoa pela casa, raspando o estômago e revirando-o em uma massa de embriaguez auto-formável.
for-mi-dá-vel.
o que se tem a fazer?
se, nessas horas, tudo o que se pensa é sentido, e o que se mostra é uma falsa fortaleza.
se, nessas horas, tudo o que se faz é se roer, se retalhando sem tecido suficiente, metralhando qualquer sopro de alívio, esquecendo por relembrar.
Revive-se uma memória, um passado não-tão-distante, e o resultado - nada maduro, eu sei - é o 'apagar ' dos presentes.
e então?
o feito, o devidamente feito e inalterável não cabe às mãos.
nem ao estômago, coitado.
não encontro a solução - nenhuma me agrada.

quarta-feira, 31 de março de 2010

é o que acontece quando o grafite existe só em pensamento
delineando as palavras de maneira tão rápida, que chegam a se perder
chegam e se vão, com a mesma rapidez em ambos os casos, sem quase nem serem vistas,
e se jogam, enfim, em uma pia qualquer.

U-T-O-P-I-A

Uma
Tradição
Oposta aos
Pensamentos e
Imaginação
Ativos

Não é a definição.
Não é tradição. Pelo contrário, um novo conjunto de ideais.

Me falaram dessa palavra hoje.
Sonho, delírio, que vem da imaginação, às vezes até subconsciente, e que pode vir a se tornar mais-que-consciente.
O que não é concreto, que não se toca com as mãos.

Utópico. Aquele que acredita e que pode chegar a lutar pela sua ideologia, bastando que essa exista dentro de si próprio.
Bastando que ele, de fato, acredite.
E quando isso não ocorre?

O que não é pegável
O que não se compra, mas se cria.
Cria, alimenta, cuida entre pensamentos em meio a uma (in)certa rotina.
Acredita, e segue.
Utopia?

Utópico é o vento passado revirando o presente; utópica é a camiseta passada a ferro, lisa e sem manchas.
Utópica, mesmo, é aquela velha cadeira de balanço, que, mesmo sem balançar, continua a ressoar os ruídos que maquinou há pouco tempo atrás.

Utopia é sonho, delírio.
Alguém não me deixe parar e acordar.

contínuo, constante, automático.

De tão desgastada, nem balança mais. Nem balança mais, logo ela, a cadeira de balanço que um dia foi a mais bonita da vitrine.
Perto do canto desbotado da parede, da tinta seca que arrancamos ontem com os dedos.
E que quase desmoronou por completo só com a primeira puxada, como papel.
Perto do canto e do vaso de flores de cor sépia, as quais me venderam como se fossem amarelas. E eu acreditei.
Bem ali, quase no canto, ao lado do vaso.
A cadeira.
Não me esqueço das vezes que sentei.
Não me esqueço da época do sol, no jardim.
Muito menos de quando foi posta pra dentro, por começar a ranger, quase que como de castigo.
Não esqueço do barulho.
Do transtorno todo.
Não.

Entre o canto da parede, e o vaso das flores de espinhos inativos, que também já não cortam mais.
A redundante, a cadeira, que nem balança mais.

E que com um sopro qualquer se quebra, sem mais se desgastar.

domingo, 28 de março de 2010

é um copo de água pela metade
é a visão esfumaçada
é o ritmo incômodo do relógio, é uma única perna impaciente
é o vai e volta das mãos nos lábios, é a cortina entreaberta
é o ruído no meio da noite, é a risada do palhaço
é a última palavra do culpado, e o medo de amar.
é o medo de amar.

domingo, 7 de março de 2010

Pausa para a lucidez

Analisando a maior parte dos meus textos, por agora, percebi que todos giram em torno de um assunto principal.
Me parece, então, que é algo de fato extremamente presente na minha vida, em uma escala muito maior do que todos os outros pensamentos e sentimentos que me afligem.
Algo a se analisar, portanto. Algo para repensar, para aceitar.
Aceitar não. Eu diria... mudar.
Esses dias disseram-me que a mudança é essencial, que faz parte da vida.
Aliás, seria o que, se não a própria vida?
Acho que ando me acomodando demais... Comodidade, é isso!
Inércia.

Ninguém precisa disso. De mesmas palavras, de mesmos sorrisos, de 'bom-dias' decorados.
De frases sem sentimento.
De passos fatigados.
Ninguém quer isso.
E nem eu.

Chega, pra mim, desse enclausuramento em próprias criações. Chega de conformismo comedido, eu nunca fui disso.
Agora não poderia ser diferente. Não pode.
Chega da claustrofobia corroendo, chega de toda e qualquer 'neo-fobia'.

Deslizar a borracha sobre o rosto programado, é o que se deve fazer.
O que conforta é saber que, o real importante, é o escrito à caneta.

sábado, 6 de março de 2010

reabilitação

resina
areia
cimento
tijolo por tijolo
creolina
anti-séptico
gesso.

segunda-feira, 1 de março de 2010

É tão ilusório e tão grande que, de tão ofuscante quase não percebe-se o brilho.
Ofusca tudo, tudo em volta. E aí, quando parece que nada pode ter resistência menor, surpresa! Uma quebra completa com direito a uma enorme explosão de fogos, de brilhos e de fontes coloridas que procuram mostrar, ao cego, a luz.
Formando-se a mistura, começa a percepção da dimensão daquela esfera - ao que parecia até então, rígida - ali criada. É a hora, então, que você percebe o quanto foi fiel ao manual de instruções que dizia para alimentá-la, protegê-la e cultiva-la, para que crescesse mais e mais, a ponto de tornar-se indestrutível.
A decepção não está no manual, e nem na bola, por si só.
Está no prazo de validade, modificado após a compra.
E quem disse que, nesses casos, a garantia vale de alguma coisa?

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Para cada grão de terra, um grão a mais de café

A cada passo do tempo, se encontra menos certeza e mais dúvida.
Talvez já faça um ano que o tempo não passou.
Talvez o novo ainda nem tenha começado. Deve ser minha expectativa, pelo que é incerto. O incerto que eu desejo sempre certo. Minhas frustrações e anseios, um completando o outro, em um ciclo enjoativo entre panelas de pressão.

Têm pessoas que precisam criticar para se auto-afirmar.
Têm pessoas que precisam antes se entender, para entender alguma coisa.
Têm ventos que passam e reviram tudo, tiram tudo do lugar.
Têm ventos que ficam e voltam, saem, ficam e voltam.
Têm ventos que nem passaram, de fato, ou passaram desapercebidos.
Têm ventos que nem existem.
Têm pessoas que nem existem.

Têm consciências que, em suas subconsciências, esperam desesperadamente que ao menos um dos dois permaneça vivo.
Ou o vento, ou a pessoa.

Porque, as consciências, juntamente com suas subconsciências...
Ah, essas existem.

.

Sinceramente não me cabem as palavras pra dialogar.
E que diálogo seria esse? Formado de inconformações hipócritas, ou então de martelos e martelos socando o mesmo prego no buraco já esgarçado?
É claro que parece mais simples, mais fácil em momentos onde o mastigado já foi engolido.
E é aí que acontece a percepção da ilusão. É, daquela camada espessa, fosca, que criamos em volta de alguém. Colocamos a cor que quisermos, pintamos a nosso gosto!
Acreditar no que lhe convém é coisa de gente viva. Viva, de olhos fechados, para o que está por trás da tal camada.
Eu confesso que nunca tinha parado para analisá-la. Sequer sabia de sua existência...
E aí está o famoso ensinamento do dia! Fazia já algum bom tempo que eu não aprendia nada, é verdade. Bastante tempo mesmo.
Essa abstinência de aprendizagem nos deixa mal acostumados.

É como as épocas que passamos, as fases. Analisando assim, me parece até uma dissertação.
Piada! Como se fosse, eu, a dona da verdade.
Me nasce apenas escrever sobre essas comparações... É interessante perceber a notória diferença entre uma e outra, entre um gosto, um fetiche, uma admiração, formas e formas de se agir...
O que antes era motivo de festa, hoje é sorriso fatigado. E o que nem se reparava, - visto com olhos sobre a camada, é claro - hoje é causa principal de excitação!

Não me cabe debater sobre nada, nem me vejo sentindo, se já senti.
E isso eu digo em questão de segundos!

Lógica não se encontra aqui, apenas em seu disfarce.
Assim mesmo, não sei como terminar linhas.
Não sei, me parece duvidoso.
Melhor deixar como está, sem muitos estardalhaços.
Sem reticências, sem ponto final

Pré-desabamento

Preciso explodir essas soluções, expandir esses músculos, suprir esse amontoado de conturbação.
Quero deixar colidir, e muito logo, quero desacorrentar minhas pernas e braços, quebrar pulsos, rodar em meio ao barulho, pisar nas pedras e sentir, sair dessa jaula, desse aperto, dilatar as veias e os vasos, dilatar todo o corpo e deixar a impaciência vinda desse desconhecido escorrer pelas pontas dos dedos. Não quero só imaginar. Quero sentir. Me dissecar.
É melhor quando concentra-se a dor em um só ponto do corpo. Espalhar em partes só arranha mais a carne.
Essa sensação de engolir pelúcia a cada segundo não é nada agradável.
Quero parar com esses goles de ácido com espuma.
Quero me deixar hidratar, jogar toda essa secura fora.
Tirar o quente, a pulsação decorrente, me esfriar.
Mas sem me ressecar.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

casa de açúcar

- Gostou do lugar?
- É incrível. - menti.

Me lembrava mesmo um auditório abandonado, em uma escala muito menor. Suas paredes pareciam ter a alma de cada fantasma que por ali já passara. Qualquer palavra dita, ecoava em um grito surdo, seguido de outro, de outro, de outro...
Distribuídas pelo espaço, algumas almofadas mofadas. Talvez lá por algum alheio conforto.
Algumas maçãs mordidas. Nada naquele labirinto me parecia confortável.

Mais dois cômodos adiante, um com cada prato, um em cada canto. No meio aquele lustre enorme.
Grande demais, brilhante demais.
Quase me cegou.

Pensei em organizar as cadeiras para as visitas.
Essa minha maldita mania perfeccionista.
O lustre não apagava aquelas luzes desgraçadas.

Fiquei com raiva. Com vergonha. Com medo.
Fiquei mesmo.
Corri.

Corri abrindo portas, corri chutando caixas, corri rasgando roupas, corri da existência.
...

Acordei nas escadas vazias da plataforma.
O relógio rodava descontrolado, bem como minha consciência.

Eu pelo menos já não estava mais lá.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Parece mais é que tiraram pra lavar
e esqueceram dentro da máquina;
Nem no varal, pra respirar
foram capazes de estender.

Só espero que abasteçam no posto mais próximo, agora que estão cientes.
Inconsequencia seria álcool, no lugar de gasolina.

sábado, 16 de janeiro de 2010

vácuo

Cheguei a confundir o próprio conformismo.
Confusão, conforto e conformação, não necessariamente nessa ordem.
Nem sei bem o que me passou. Para ser sincera, acho que nem palpável foi. Não, nem sentir, senti, sinceridade.
Naturalidade, poderia ser a definição. Não poderia, na verdade, mas me parece considerável.
Reconsiderável.
O mundo observado com olhos diretos me parece muito mais limpo mesmo. Mais simples.
Confiável.
Fico feliz.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Um fio de cabelo no colchão, dois cubos de gelo no calor, o vento perfumado, o ônibus de três pontos...
Tudo faz falta.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

(ren)ovação.

Vadia forma que o presente brinca nas letras de um passado atravessado, nem tão bem enterrado assim.
Cada detalhe visto com a letra, a cor da letra, a textura, maldita letra, maldita cor, letra de dor.
Recortes e colagens ressentidos com a leveza do lilás, a letra bonita e a carta deixada - mofada e embrulhada em palavras de alguns quilometros.
Agora é ano novo e a rua virou festa, o mês, nem interessa, a hora corre e o vento gela a pele, todos contam os segundos, de nada importa a pressa.
Atrás da estante, um novo truque. Arrepio... E o medo de (mais) um improviso.
Corre em vulto, diminui o passo, risca o risco.
No relógio, mais duas andadas de ponteiro. Certeiro, o disco, levado menino. Magia, feitiço; e o jogo de olhares, de sorrisos e palavras, o brilho dos traços sentido em uma renovação, um único momento, salva-vidas, campeão.
Escondido entre olhares, o silêncio festivo dos amantes: Os mesmos tratantes que há um segundo juravam as mesmas juras àquelas almas enganadas.
Presentes.
Merda de impulso, cego, o coitado. Não o impulso, eu digo, o impulsado.
Pobres vítimas de merda.
Na cortina aberta, os fogos comemorativos.