sábado, 3 de março de 2012

Ser humano é ser social.
Ser humano é ser sentimento.
Ser humano é ser necessidade de exteriorizar emoções.

E é ser golpeado pela vontade de poder mostrá-las ao mundo.

Assim como a literatura é vista como imortal por possuir virtudes atemporais, uma vez que a identificação espiritual entre leitor e escritor mostra-se como sua principal forma de denotar algum sentido à existência, essa mesma identificação é buscada pelo ser dentro do mais cru de sua cerne.

"Quem sou eu?"
"Eu sou assim"
"Eu quero ser assim"
"Eu quero que você me veja assim".

Um rabisco cravado ao corpo comunica ao mundo a apreciação que ele possui sobre determinado símbolo. A participação dele em determinado grupo. A entrega fluida a determinada arte. O lema, religiosamente seguido, que impulsiona todas as suas formas de agir.
A tatuagem nada mais é do que um entre tantos gritos mudos, cuja função consiste em mostrar um algo para um todo. Qualquer (des)conhecido é capaz de captar e reproduzir a mensagem visualizada - sendo essa compreendida na forma inicialmente idealizada ou não.

A verdade é que o ser humano vive constantemente na busca de mostrar ao universo aquilo que é e aquilo que tem. Aquilo que acredita.

Em eras digitais, o "compartilhar" tornou-se comum. Conhecimento, cultura e ideais.
Assim como, por muito tempo, o caderno pôde ser - e ainda é - visto como principal objeto usado para reprodução escrita das aulas lecionadas, ou usado para descrever afetividades pulsantes, hoje os Blogs e as Mídias Sociais advêm para tomar, gradualmente, seus lugares. Fato que não desvaloriza o mínimo da veracidade de um sentimento.

Não é pelo fato de não haver conhecimento profundo, em determinados pontos de observação, entre duas ou mais pessoas, que está impossibilitada a ideia de compartilhar uma crença, um pensamento, e, principalmente, uma emoção.

Imagens, músicas e textos se fundem em incessantes buscas para expressar aquilo que é impossível de ser verbalizado. Esses processos surgem intrínsecos e necessários, e são incansavelmente utilizados para aliviar tensões e para evitar que, por ventura, nos aventuremos a despencar nos abismos da depressão.

Não é de hoje que ouço sobre as-grandes-virtudes-abandonadas-e-substituídas-pelos-caprichos-vazios-dessa-nova-geração. Concordo que, atualmente, e sobretudo nos quesitos "pensar", "se relacionar" e "humanizar", há, de fato, muito a ser questionado. Mas considero inconcebível que o compartilhar de uma lágrima seja entendido e dado convictamente como falso, ou mero jogo de indiretas, única e simplesmente pelo fato de estar sendo gritado, mais uma vez, mudo, publicamente. Por que compartilhar um sorriso pode ser, então, permitido?
O agradável é sempre certo.
O pesar alheio incomoda àqueles que carregam, em chamas apagadas, suas próprias barras de ferro.

É do ser humano expressar-se, mostrar-se, sentir-se. É do ser humano ter consciência real da própria dor. É do ser humano identificar-se completamente - ou não - com o conteúdo expresso na linguagem subjetiva do outro.
Uma aflição exteriorizada pode ser a mais enérgica das artes, quando, e, se, exteriorizada.
E ninguém tem nada com isso.
E todos falam. E todos vivem. E todos são, isso.