quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Ópera de Machado

Começo assim, como começaria em qualquer palco, uma peça ao público, sem cortinas, sem sapatos, sem receios. Somente as meias.

Um salto em direção à platéia, aos desconhecidos, aos amantes, aos queridos, aos críticos e ressentidos, aos tantos e tantos, em cantos, em solos, sozinhos, calados, à espera. Envoltos em uma expectativa, uma qualquer, uma expectativa, sem perceber, de qualquer beleza, de qualquer sujeira, de qualquer ruído, de qualquer, de.
Uma expectativa de.

E entre relógios barulhentos pernas inquietas suspiros mal contidos bocejos óculos sendo postos em-seus-devidos-lugares papéis de bala garrafas de plástico esmagadas pigarros espirros mordidas suor, forma-se a pausa - em meio à abdicação dos ponteiros e a respiração que se prende.
No fim, que é o começo, é tudo som, luz e brilho.

Um correr silencioso sem marcações, um leque de cores, em meio à dança, aos vestidos volumosos, ao efeito da luz que quase cega, para depois abaixar-se, reduzir-se a um pálido cômodo, que intimida, que relaxa, que faz pulsar os músculos e os olhos, em meio à vibração, às cores fortes, às pálidas, à interação de cada gesto, de cada fala, de cada sopro.
O lirismo do momento.

Por toda a noite quase nem sentida, por todo o espaço. A música, a literatura e o teatro, juntos em uma só voz. Em um só corpo.

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