quarta-feira, 31 de março de 2010

é o que acontece quando o grafite existe só em pensamento
delineando as palavras de maneira tão rápida, que chegam a se perder
chegam e se vão, com a mesma rapidez em ambos os casos, sem quase nem serem vistas,
e se jogam, enfim, em uma pia qualquer.

U-T-O-P-I-A

Uma
Tradição
Oposta aos
Pensamentos e
Imaginação
Ativos

Não é a definição.
Não é tradição. Pelo contrário, um novo conjunto de ideais.

Me falaram dessa palavra hoje.
Sonho, delírio, que vem da imaginação, às vezes até subconsciente, e que pode vir a se tornar mais-que-consciente.
O que não é concreto, que não se toca com as mãos.

Utópico. Aquele que acredita e que pode chegar a lutar pela sua ideologia, bastando que essa exista dentro de si próprio.
Bastando que ele, de fato, acredite.
E quando isso não ocorre?

O que não é pegável
O que não se compra, mas se cria.
Cria, alimenta, cuida entre pensamentos em meio a uma (in)certa rotina.
Acredita, e segue.
Utopia?

Utópico é o vento passado revirando o presente; utópica é a camiseta passada a ferro, lisa e sem manchas.
Utópica, mesmo, é aquela velha cadeira de balanço, que, mesmo sem balançar, continua a ressoar os ruídos que maquinou há pouco tempo atrás.

Utopia é sonho, delírio.
Alguém não me deixe parar e acordar.

contínuo, constante, automático.

De tão desgastada, nem balança mais. Nem balança mais, logo ela, a cadeira de balanço que um dia foi a mais bonita da vitrine.
Perto do canto desbotado da parede, da tinta seca que arrancamos ontem com os dedos.
E que quase desmoronou por completo só com a primeira puxada, como papel.
Perto do canto e do vaso de flores de cor sépia, as quais me venderam como se fossem amarelas. E eu acreditei.
Bem ali, quase no canto, ao lado do vaso.
A cadeira.
Não me esqueço das vezes que sentei.
Não me esqueço da época do sol, no jardim.
Muito menos de quando foi posta pra dentro, por começar a ranger, quase que como de castigo.
Não esqueço do barulho.
Do transtorno todo.
Não.

Entre o canto da parede, e o vaso das flores de espinhos inativos, que também já não cortam mais.
A redundante, a cadeira, que nem balança mais.

E que com um sopro qualquer se quebra, sem mais se desgastar.

domingo, 28 de março de 2010

é um copo de água pela metade
é a visão esfumaçada
é o ritmo incômodo do relógio, é uma única perna impaciente
é o vai e volta das mãos nos lábios, é a cortina entreaberta
é o ruído no meio da noite, é a risada do palhaço
é a última palavra do culpado, e o medo de amar.
é o medo de amar.

domingo, 7 de março de 2010

Pausa para a lucidez

Analisando a maior parte dos meus textos, por agora, percebi que todos giram em torno de um assunto principal.
Me parece, então, que é algo de fato extremamente presente na minha vida, em uma escala muito maior do que todos os outros pensamentos e sentimentos que me afligem.
Algo a se analisar, portanto. Algo para repensar, para aceitar.
Aceitar não. Eu diria... mudar.
Esses dias disseram-me que a mudança é essencial, que faz parte da vida.
Aliás, seria o que, se não a própria vida?
Acho que ando me acomodando demais... Comodidade, é isso!
Inércia.

Ninguém precisa disso. De mesmas palavras, de mesmos sorrisos, de 'bom-dias' decorados.
De frases sem sentimento.
De passos fatigados.
Ninguém quer isso.
E nem eu.

Chega, pra mim, desse enclausuramento em próprias criações. Chega de conformismo comedido, eu nunca fui disso.
Agora não poderia ser diferente. Não pode.
Chega da claustrofobia corroendo, chega de toda e qualquer 'neo-fobia'.

Deslizar a borracha sobre o rosto programado, é o que se deve fazer.
O que conforta é saber que, o real importante, é o escrito à caneta.

sábado, 6 de março de 2010

reabilitação

resina
areia
cimento
tijolo por tijolo
creolina
anti-séptico
gesso.

segunda-feira, 1 de março de 2010

É tão ilusório e tão grande que, de tão ofuscante quase não percebe-se o brilho.
Ofusca tudo, tudo em volta. E aí, quando parece que nada pode ter resistência menor, surpresa! Uma quebra completa com direito a uma enorme explosão de fogos, de brilhos e de fontes coloridas que procuram mostrar, ao cego, a luz.
Formando-se a mistura, começa a percepção da dimensão daquela esfera - ao que parecia até então, rígida - ali criada. É a hora, então, que você percebe o quanto foi fiel ao manual de instruções que dizia para alimentá-la, protegê-la e cultiva-la, para que crescesse mais e mais, a ponto de tornar-se indestrutível.
A decepção não está no manual, e nem na bola, por si só.
Está no prazo de validade, modificado após a compra.
E quem disse que, nesses casos, a garantia vale de alguma coisa?