segunda-feira, 21 de novembro de 2011

(...)
"Daí a gente pede salada e fica cheia. Daí a gente bebe e fica esvaziada. E nada disso tem a ver com essa fome. Daí a gente segura firme o braço de uma pessoa. Troncos alheios e descartáveis para não afundar no mar gelado e escuro dos raros momentos em que a solidão parece o caminho mais difícil.

Mas no meio de tantas tentativas frustrantes de abrir com uma ponta fina de faca o peito coberto de mentira, existem ainda esses momentos em que o oxigênio entra tão branco e gelado e de longe, que notamos, não sem saudade, quão fétida, frágil, medíocre e quente é a nossa falsa segurança".

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Um brilho de aluguel

Hoje acordei em meio à fumaça colorida das luzes piscantes. Sonho, mofo e lágrima.
Levantei cambaleando até minha janela, de onde dá pra ver piscar longe aquele relógio verde de um fluorescente que faz arder. Dez horas. Dez horas e eu, com esses olhos borrados de ontem, já esperando o fim do dia pra mais um copo daquilo que me denominaram, certa vez, Vida.

Um shot amargo de café e o livro amassado que há um ano era seu. "Deixe o Grande Mundo Girar". Um quê de irônico nessas linhas, nessas páginas enrugadas pelo copo de água que você deixou molhar - e que nem o secador deu conta de fazer voltar ao normal.
O livro não fecha direito.

"Vamos nos reajustando". Nos afastando, você diz.
Nos desencontrando.
Nos perdendo para-sempre-amém.
"Ah, o primeiro copo, o primeiro corpo, o primeiro amor".
Engraçada a lucidez com que sempre estivemos, sem esforços, sem ruídos. Só a respiração que parecia flutuar. E agora essa garrafa anêmica e esses olhos vidrados e esses giros, esses sons, essas risadas altas e toda essa palhaçada ensaiada que me prova somente o quão toscas são essas paredes.

Viver uma vida unicamente minha, repleta de todas essas confissões bordadas com papel. Sentir vento forte me arrastando pra todos aqueles antes in-co-gi-tá-veis cantos, ao mesmo tempo em que me bate bruto e gélido no rosto.

"A verdade, meu amor, a triste verdade", é que no despertar de todas as manhãs preguiçosas seguintes àqueles momentos híbridos de risada involuntária, tudo o que lhe resta é a casa vazia, um celular que não-vai-tocar, uma sede incontrolável e a incessante solidão.