terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Manual de instruções

Não sei iniciar.
Pode parecer besteira, como em um começo de conversa, um começo de programa ou um começo de texto, fácil e cotidiano. Acontece que eu não sei.
Não consigo iniciar quando tudo o que já estava em seu devido lugar é arrastado para todos os lados, transformando em caos - na minha velha percepção dramática - aquilo que eu mesma, com o tempo, havia organizado de maneira que eu sempre pudesse achar quando precisasse.

Poderia ser simples, é bem verdade. Como se, apertando um botão localizado ao lado esquerdo da tela do computador, todas as possiblidades aparecessem, se abrindo num leque de opções de diversas cores, esperando serem escolhidas através de mais alguns cliques.
Só que o que aprendi, ou melhor, o que me fizeram aprender - não me pergunte nem tente adivinhar quem, eu já busquei por inúmeras tardes chuvosas (aquelas nas quais sentimos que, ao deitar, tudo parece vibrar em um tom mais cinza, úmido e pensante) e lhe digo: Não cheguei a resultado suficiente algum! - é que as opções que nos sorriem durante nossos cliques involuntários e um tanto mais pesados, vêm recobertas por uma espessa camada, nada agradável, chamada por aí de dificuldade.

O fato é que, assim, não sabendo iniciar, me jogo no impulso cru e desprovido do estudo supostamente necessário que possuo - e enfio esse 'supostamente' por se tratar do meu subconsciente, que acha que pensa por si - de conseguir uma resposta, insistindo em prosseguir dessa minha maneira nada ensaiada e não tão convencional, se repararmos nas circunstâncias, a buscar um algo sobre o qual eu nem saberia dissertar.

Fico em cima do muro quanto à virtude que essas tentativas podem levar a surgir, então deixo clara a participação de alguns de fora, de visão menos embaçada, que me levaram a pensar na possibilidade de algum sucesso, e a não chegar, mais uma vez, a uma opinião formada.
Me diga você, então, o que acharia se visse uma situação como essa... Talvez até já tenha visto, não me parece ser algo assim, tão incomum.
Será?

Um sorriso no rosto, algumas palavras simpáticas e a expressão de calma e suficiência na face, como quem diz 'está tudo sob controle e eu gosto de você!'

De que outra forma poderia agir, afinal?
Não sei iniciar, eu já disse, mas pretendo finalizar alguma coisa, seria o mínimo a se esperar.
Confesso que achei que era melhor com finais... E agora me deparo com um texto bíblico em seu tamanho, de idéias jogadas e reprimidas, períodos imensos e uma conclusão não escrita, a qual se mostra presente dentro de alguma caixa empoeirada da minha memória, mas que teima em se submeter ao resumo de linhas a esperá-la, já impacientes.

Não sei iniciar.
Não sei finalizar.
Tenho medo do que está por vir, é verdade.
Me conformo, afinal, com o fato de que nada me resta além de continuar absorta nos dias de chuva, sem buscar e sem pressa: Esperando, sem premeditações, o momento impulsivo, o momento vazio daqueles sentimentos repressores e ansiosos, para me jogar, por mais vezes, em tudo aquilo que espera me amedrontar nos próximos verões.

2 comentários:

  1. Pota ke paril Gabriela!
    !
    Não entendi e entendi porra nenhuma.
    A verdade é que a gente sempre reclama do que está certo por não acharmos certo no momento, e quando nos vemos "sem" esses problemas, essas confusões e caos todo, nos vemos assim...assim.Sem começo nem fim.

    Sai.

    ResponderExcluir
  2. Lindo.
    Seus textos são os únicos que me fazem refletir de maneira a buscar, seja no subconsciente ou no fundo do meu coração, uma indagação e a respectiva resposta para aquilo que sou e que sinto.
    Você é demais, menina.

    ResponderExcluir