quarta-feira, 30 de junho de 2010

Neblina

Na hora exata de um dia ideal, construído com xícaras de açúcar.
Sombreado num tom de azul, mais claro ou mais escuro, momento sim, momento não.
Um momento para reflexão. Pausa, meditação - toda essa coisa mística que na realidade nem existe dentro de mim.
Existe mesmo aquele bom e velho trânsito matinal (que às vezes aparece também à noite.) Fumaça, Palha, Feno e Aço.
Todos mastigáveis, para fortalecer os dentes. "Só pra exercitar."
Mais algumas curvas à esquerda, passando as placas, a tal da contramão.
Pista cheia. Cheia da mais bonita neblina.
Ilusória, abstrata, bonita Neblina.
Me faça o favor de sumir daqui, então, comigo nas mãos.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Desaprendi a escrever sobre como eu gosto do abstrato que é certo, do olho no olho, do fio de cabelo. Desaprendi a cantar todos aqueles versos, os descobertos e os decorados, e aqueles trechos, e aquelas palavras, e...
Desaprendi próprias palavras, arranquei cotidianos, morri com aquela coisa embaraçosa, e até desconfortável, esperada. Isso mesmo, morri com o previsível.
Nunca achei que fosse dizer isso um dia, mas me parece tão estranha essa aparência renovada, varrida, colocada em baixo do tapete.
Poeira escondida, talvez. Esquisito, até pra mim.
Até quando?

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Aquele gélido fim de tarde fazia-lhe tremer por completo - bem que lhe avisaram da queda de temperatura que se seguiria pelo dia.
Os dedos frios nem se moviam, e os braços procuravam desesperados, entre eles, por algum calor. As pernas não paravam, embora estivesse, a própria menina, sem se mexer um centímetro.
Calafrios e tremores incessantes. Era mesmo obra do vento?
Não sabia.
Também, não importaria, já que em poucos minutos estaria aquecida, em sua pretensão.
Assoprou entre os dedos das mãos fechadas em punho, e tocou mais uma vez a campainha, desenjando por um segundo que não houvesse ninguém.
Mais um, dois...
três segundos contados, e a porta se abriu.

- Entre - ele sorriu.
- Tem certeza de que não vou incomodar? - "não, vá embora, vá embora!"
- Claro que tenho. E você também não me parece muito confortável aí, do lado de fora. Entre logo, anda. - ele parecia ansioso. Como se esperasse por algo. Como se esperasse não apenas por ela, mas por todo aquele momento, já há algum tempo.
- Mas e quanto à...? - desejou ser entendida e não ter que continuar a frase.
Sabia que funcionaria, estava explícito na forma como falava e como gesticulava.
"Menina estranha."
- Ah, não se preocupe. Ela já foi embora, não há mais o que temer. - e estendeu a mão, envolta por uma luva de lã.
Pensou mais uma vez em hesitar, mas não faria sentido. Já estava lá.
"Não há o que temer, não há o que temer, não há..."
Em passos rápidos, entrou quase que tropeçando no degrau da porta.
Entrou mesmo, e de uma vez, temendo.
...