domingo, 5 de junho de 2011

Eu era dona do mundo

No momento em que puxei a porta de vidro para a saída, tudo me pareceu ainda mais claro do que o branco iluminado de mais uma tarde-comum de segunda-feira poderia mostrar.
Senti vento esfriando preocupações antigas, que tinha como diárias quando entrei, por aquela mesma porta, um ano e nove meses atrás.
Senti vento gritando alto por dentro, agora por uma nova causa: a de viver por mim, na única e imparcial companhia-comigo-mesma. Nova consequência.

Descobri nos valores, questão de convenção; e me convenci de que eles podem divergir, de pessoa para pessoa, sem causar grandes estragos, quando sem rotular a personalidade de quem os possui inside. Cada um tem os valores que tem, e eles podem mudar ou não. Cada um é uma pessoa, não um valor em que ela acredita. Não se engloba o todo pela parte.

Percebi e reconheci análises concretas, se é que isso um dia será possível, tendo em vista o inventário abstrato que é ser humano. As pessoas erram caem sofrem têm raiva valorizam ajudam. As pessoas precisam de ajuda, e tudo por causa daquela maldita - e dificílima - distinção entre leitura mental e pensamento real. Talvez não da forma como você as vê, mas a verdade é que as coisas são.

A gente vive de apostas. O incerto faz companhia, mas, convenhamos, é tão boa a sensação de pular sem saber o que há de vir...! Liberdade de sensação, ou o contrário.
Livre: foi assim que me senti, ao sair serena da sala que mais me ouviu perfeccionista, culpada, inocente.
Doente.

Me lembrou cena daqueles filmes antigos, hoje em dia desvalorizados. Eu senti o preto e branco, a plataforma vazia e o vento bagunçando forte o cabelo, levando algo,ou trazendo algo com ele.
Esses dias, encerrados nesse último take, levaram de mim coisas inúmeras. E me trouxeram mais tantas outras, seguras, tratadas, mutáveis.

Livre.
Como se, com o vento, o mundo me abraçasse, e aí só existisse eu. Eu, o vibrante feliz do sol, o fresco metido do vento. E o sorriso, que veio involuntário e cru, assim, sem preocupações morais, sem temeridades, sem vergonha. Um sorriso sem vergonha de quem tem a si mesmo para mostrar por completo ao mundo, de quem se joga intenso nas emoções e grita o quanto puder gritar aquilo que acredita.

Foi assim que senti.
Quis pular e quase voei. Tudo pareceu em ordem, em harmonia, confortável.
Sem apoio, sem muleta, sem ombros ou braços aonde segurar. Os pés fora do chão, suspensos em uma gargalhada. Eu acreditei.