segunda-feira, 15 de julho de 2013

na grama com sol de domingo eu quis nascer de novo
e rabiscar com giz todos os sorrisos que vi naquele dia
seus escritos me dão cócegas aqui por dentro
cócegas de suspense e adrenalina
e até de repulsa, um pouquinho
mas a atração é mais forte
dá vontade de rir um riso meio assustado.

domingo, 14 de julho de 2013

queria ter estômago infinito
pra comer de todas as emoções
ácidas, medonhas
destrambelhadas
sem que, a cada crise
derretesse mais um pedacinho

terça-feira, 9 de julho de 2013

Constituída no formato ferrugem e em bordas de desgaste, escorre pálida entre tijolos nossa cultura extravasada. Estatizada por falta de verba, estereotipada por cabeludos míopes, pedinte por seu próprio espaço, pedestre pela existência - e pela ausência do contrato - da sua própria casa: a rua. Em uma antiga oficina, artistas encantados e decadentes, em construção, depõem em versos, melodias e performances suas vontades e frustrações. Celebramos, juntos, os feitios desumanos de um cotidiano destituído de cor - desintegração mecanizada a que fomos submetidos. O que acontece quando permitimos? O que esperar de rumores abafados em paredes sós? Sótãos anarco-conduzidos a um espectro esfumaçado de gritos contido-politizados. "Nem esquerda, nem direita": "o negócio é comer cu e boceta!". Cuspimos verdades ásperas sobre direitos humanos, a teoria, e sobre a prática, déspota, pós-graduada em deveres levianos. Sobre evangelismo, reacismo e extremismo, um individualismo coletivizado. Identidades próprias em destruição: valores pisoteados em marcha, ritmada e forte, sobre o chão. Tiramos as roupas para uma nação embandeirada. Escondidos sobre a embaixada, éramos rouquidão, sussurro atormentado; éramos punho fragilizado pela criminalização do escambo de emoções. Em acordes melancólicos: "Caiam com o congresso! Estuprem o (real) vandalismo!" Entre esboços deteriorados e versada pela constante mutação, a cultura atravessava formas destoantes em movimento, uníssono pela polifonia, fanático em poesia e pautado contra todos os anti-liberdade, os anti-expressão e, principalmente, os anti-contradição.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

( )

descíamos as escadas enquanto ela me falava do vento
pulávamos degraus enquanto roçava, aguda que nem fio de cabelo no rosto, toda a instabilidade.
me beijou como quem beija uma menina e me sorriu como quem ri de brincadeira.
me quis como quem quer pra já e me teve como quem prolonga a espera.
me esmagou como quem se entrega sobre o peso do corpo
me repuxou como quem nem sabe o que faz.
me soltou
como
quem
tem
medo.