sábado, 25 de dezembro de 2010

The good(byes)news

Fechei com força aquela mala enorme de rodinhas desgastadas de uns bons 7 anos atrás e a coloquei de pé no chão. Eram os últimos dias, e eu deveria me certificar de que todos os papéis rabiscados e muitíssimo bem amassados já estariam suficientemente presos, perdidos em pedaços desiguais e zipados pra sempre em meio ao mofo macio predominante ali dentro.

Lembro-me de ter escrito uma mesma frase várias e várias vezes.
Na primeira, rabisquei.
Na segunda, amassei.
Na terceira, rasguei em mil pedaços.
De alguma forma, prometi que iria sair - Assim como tantas outras coisas, do começo, que acabei tão facilmente deixando pra trás, de uma forma sutil que aprendi.
Aprendi de verdade por esses dias quentes. E principalmente durante os gelados. A mudança de clima costuma ser saudável, mesmo quando inesperada.

Deitei de pernas para a cabeceira, segurando insegura e, quase com saudade, a alça, enquanto previa a madrugada. Fazia tempo que não amanhecia tão claro.

O final (ou o começo, numa visão mais esperançosa), estava cada vez mais próximo e eu, apegada, o adiava inutilmente em devaneios internos, onde tudo era estagnado e ridículo.
Eu sabia do necessário, mas não escondia com totalidade meus receios. Esses mesmos de sempre, os receios, malditos receios, que nunca se vão por completo.
Costumam permanecer durante mais algum (curto) período. Pelas vezes que vivenciei, eu digo. Não é nada regrado. Receios descontrolados.

Por mais um minuto, não resisti e reabri a mala. Olhei pela última vez todas aquelas letras perdidas, escritas com força e com fraqueza; Implorando para algumas que logo fossem embora, enquanto, para com outras, lamentando sua inevitável partida.
Por dentro, a mala cheirava a perfume e pêlo de cachorro. A cansaço e chuva. Algo quente.

Me demorei a fechá-la novamente, diferente de como fiz no início. Minha determinação, afinal, balançando diante do incerto. Como sempre foi, mas talvez, agora, com uma colher, mesmo uma colherzinha de chá, de tranquilidade. Algo passava súbito pela minha cabeça e por entre meus órgãos enquanto fechava toda aquela bagunça de lembranças, tombos e aprendizados. Toda aquela mistura de odores e texturas. Tudo aquilo, sendo levado para outro lugar.

Deixei um vão do tamanho de um palmo, aberto entre os zípers. Algo ali dentro ainda seria (muito) utilizado. Sorri enquanto tremia ao olhar para a mala, iluminada agora apenas pela luz sépia do abajur.
- Boa noite. - disse, para algo que já foi, ou para algo que está por vir, ainda com os lábios retorcidos num meio sorriso.

E apertando o interruptor, esfregando a borracha ou, simplesmente, fechando o zíper de uma mala, apaguei.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Presa à minha eterna neblina, onde distraem-se o bonito e o sujo.
Se distraem e se corrompem.
Se misturam, solteiros.
Se terminam.
Sozinhos, amarrados um ao outro, como tantos.

Estima-se grande demora para que se possa evaporar
e clarear toda a fumaça.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Manual de instruções

Não sei iniciar.
Pode parecer besteira, como em um começo de conversa, um começo de programa ou um começo de texto, fácil e cotidiano. Acontece que eu não sei.
Não consigo iniciar quando tudo o que já estava em seu devido lugar é arrastado para todos os lados, transformando em caos - na minha velha percepção dramática - aquilo que eu mesma, com o tempo, havia organizado de maneira que eu sempre pudesse achar quando precisasse.

Poderia ser simples, é bem verdade. Como se, apertando um botão localizado ao lado esquerdo da tela do computador, todas as possiblidades aparecessem, se abrindo num leque de opções de diversas cores, esperando serem escolhidas através de mais alguns cliques.
Só que o que aprendi, ou melhor, o que me fizeram aprender - não me pergunte nem tente adivinhar quem, eu já busquei por inúmeras tardes chuvosas (aquelas nas quais sentimos que, ao deitar, tudo parece vibrar em um tom mais cinza, úmido e pensante) e lhe digo: Não cheguei a resultado suficiente algum! - é que as opções que nos sorriem durante nossos cliques involuntários e um tanto mais pesados, vêm recobertas por uma espessa camada, nada agradável, chamada por aí de dificuldade.

O fato é que, assim, não sabendo iniciar, me jogo no impulso cru e desprovido do estudo supostamente necessário que possuo - e enfio esse 'supostamente' por se tratar do meu subconsciente, que acha que pensa por si - de conseguir uma resposta, insistindo em prosseguir dessa minha maneira nada ensaiada e não tão convencional, se repararmos nas circunstâncias, a buscar um algo sobre o qual eu nem saberia dissertar.

Fico em cima do muro quanto à virtude que essas tentativas podem levar a surgir, então deixo clara a participação de alguns de fora, de visão menos embaçada, que me levaram a pensar na possibilidade de algum sucesso, e a não chegar, mais uma vez, a uma opinião formada.
Me diga você, então, o que acharia se visse uma situação como essa... Talvez até já tenha visto, não me parece ser algo assim, tão incomum.
Será?

Um sorriso no rosto, algumas palavras simpáticas e a expressão de calma e suficiência na face, como quem diz 'está tudo sob controle e eu gosto de você!'

De que outra forma poderia agir, afinal?
Não sei iniciar, eu já disse, mas pretendo finalizar alguma coisa, seria o mínimo a se esperar.
Confesso que achei que era melhor com finais... E agora me deparo com um texto bíblico em seu tamanho, de idéias jogadas e reprimidas, períodos imensos e uma conclusão não escrita, a qual se mostra presente dentro de alguma caixa empoeirada da minha memória, mas que teima em se submeter ao resumo de linhas a esperá-la, já impacientes.

Não sei iniciar.
Não sei finalizar.
Tenho medo do que está por vir, é verdade.
Me conformo, afinal, com o fato de que nada me resta além de continuar absorta nos dias de chuva, sem buscar e sem pressa: Esperando, sem premeditações, o momento impulsivo, o momento vazio daqueles sentimentos repressores e ansiosos, para me jogar, por mais vezes, em tudo aquilo que espera me amedrontar nos próximos verões.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

"It looks like the end of history as we know...

...It's just the end of the world".

Não era apenas o reflexo do sol cansado daquelas tardes perenes que batia na janela, como quem procura algo impossível de se ter de volta. Havia mais, alguns outros tantos motivos por que ficar. E por que sair correndo dali.

Respirou de volta, pela garganta, todas as fumaças de todos os cigarros usados naqueles dois últimos anos, enquanto olhava absorta pelo vidro empoeirado.
- Acabou, afinal. - Foi o que lhe disseram, uma semana atrás, com um sorriso aliviado nos lábios, como se fosse fácil.
Como se fosse fácil!

Tentou se concentrar em movimentar os olhos, tirando-os, assim, da inércia por alguns poucos instantes, mas o duro fardo de segurar sobre as costas todos aqueles pesados dias por uma última vez, lhe encobria da mais fina camada de vergonha, alívio, receio, alívio, medo, alívio - e lhe petrificava o olhar.
Podia respirar, enfim, longe de tudo o que mais lhe incomodava - palavras suas - embora parecesse, esse fim, o mais incerto - mesmo mais que aquele começo.

Era ainda mais do que uma inércia, o que se observaria - se alguém parasse para observar - ali, naquele lugar onde encontrava-se metade janela, metade vida. Era um retroceder de horas, de momentos até então guardados para nunca serem relembrados, onde cada sentimento voltava à tona, como se de fato revivesse, como se gostasse.
Como se... gostasse.

Piscou os olhos por mais uma vez, sentindo-os arder de tão secos.
Nenhuma lágrima caiu, mas algo pulsava doentio por dentro, como se, em algum pedaço, em algum instante, algo fizesse sentido, afinal.
Como se gostasse.