quarta-feira, 27 de maio de 2009

Ontem, amanhã.

Era como dizer em línguas tortas, palavras mortas, coisas que não se poderia dizer.
E veja como o vento faz os cabelos voarem... Como cada dia que passa o frio se aproxima.
Uma conturbação de neblina e anseio por novos ares, novos bares. Coisas tolas, que meus olhos demoram a enxergar. Necessárias.
Se a cada suspiro escapado desaparecesse uma marca, como seria?
A vontade de vivenciar mundos passados, lugares passados, pessoas passadas, memórias passadas e até lembranças reprimidas surge enquanto não sou levada pelo sono. E pelos sonhos.
Engraçado como os sonhos influenciam em nosso cotidiano. Os meus, pelo menos. Cada dia com menos cor. Menos sentido.
A realidade me amassa. Algumas vezes, me mantém. Me estraçalha. Me fortalece.
Confuso. Paradoxal. Minha própria existência, meu ego, minha rotina.
Em mais uma salada de comércio. Uma salada de ignorância acentuada.
Um café quente, para começar bem o dia. E continuar a sonhar. A sonhar o desconhecido.

sábado, 23 de maio de 2009

Colo.

É só mais uma tempestade do lado de fora.
Logo menos aparece alguém para secar as gotas que restaram escorrendo na janela.
Logo mais o sol volta a raiar. Acredite, uma hora ele volta.
Cubra-se com o edredom mais quente que houver, essa noite será fria. Apenas aperte minha mão, e deite-se tranquilo.
A força seria essencial agora. Tente encontrá-la sem precisar desses comprimidos amargos. Ela está dentro de você... Difícil, sei. Mas sei que pode achá-la. Tem a minha ajuda.
Vamos, me deixe te abraçar, te passar nos braços, nas veias, nos olhos, tudo o que precisa.
Você vai vencer, e logo os ventos serão outros.
Logo o ar volta a ser respirável, as mãos param de tremer, as olheiras somem, as rugas cessam.
Elas cessam.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Nine O'clock

Sorrisos iluminando a noite, pedras chutadas ao longe por tênis surrados.
Avenida movimentada, fria, mas lubrificada por vozes envergonhadas, olhares constrangidos, que exalam uma alegria contida e intensa, adotada somente pela vivência do momento.
Horas jogadas fora, aproveitadas, caminhando sem pressa, apressadas. Mais duas horas, por favor. Mais três minutos, se possível.
Risadas abafadas, gostas de suor.
Depressa, mais depressa. O mundo não tem dono hoje, um universo sem governo, algum lugar inteiro.
E já são nove da tarde. Tarde da noite, que não tem fim. Já são nove da manhã.

domingo, 17 de maio de 2009

Tão longe

Lábios trêmulos, olhos borrados.
Mais um assombro, um recesso, suco de uva escorrendo pelos cantos, espalhado, jorrado por toda parte.
Macia voz que canta o asfalto: Embriagado, de tanto se morder.
Onde tudo aquilo foi parar, onde foi?
Mãe, a gente já vai chegar, falta muito?
Veias carregadas de impaciência, indiferente, ah, como se fosse mesmo, formada por espelhos. Conhece-te primeiro, percebe-te primeiro, sinta o gosto. Som de desconforto na luz fraca.
Mais uma nota. Mais uma hora. Poeira nos dedos, no canto da sala.

sábado, 16 de maio de 2009

Nublado.

Barulho incessante, contínuo, constante. Pleonasmo vicioso. Um chuveiro mal fechado ou uma torneira meio aberta, difícil identificar.
Uma rua deserta, de carros. Cheia de gente. Todo tipo de gente. Fantasmas. Estranhos. Não se deve dirigir-se a eles.
Fumaça, gargalhada estridente. Dois cigarros engolidos de uma vez. Dois ou três... Parece pouco. Fumar não é pra mim.
Lua minguante, céu sem estrelas, lotado de nuvens. Lotado. Disseram-me que vai chover. Mudaria o céu, mas não a lua, pena. Ela permanece minguante, por mais que chorem águas, lágrimas, sangue. As nuvens uma hora somem, dando lugar as estrelas, acredito. Esperança, abatida.
Algo está mudado, errado, fechado.
Alguém feche a torneira.
Ninguém fecha a torneira.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Surpresa.

Vozes ao redor, olhares e comentários.
Vermelho tapete, joias de plástico.
Bonecos ensinados mostrando serviço, dentes brancos, demais moças ofuscadas.
Abram caminho, é ela. Reprimam as palavras e agucem a visão. Vejam como ela tem poder. Salto alto, tão alto, obsessão.
Radiante de beleza, radiante, mulher puro-brilho.
Aplausos, recebam-na como merece. Digna de passos largos, toques contidos, flashs nada discretos.
Capa de revista, mulher maravilha. Salve o mundo em uma palavra.

('How 'bout a round of applause?')

quinta-feira, 14 de maio de 2009

... E o meu instinto, deixe correr. Correr pelos vales, pelos cantos, pelas veias, pelos corpos, deixe. Só não me faça perder o equilíbrio. Não faça com que ele caia, da palma da minha mão.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Ventos.

Flocos de dor na chuva pesada, ronco de motor partindo, janela embaçada.
Um abraço suado depois do futebol, luvas sujas. Um sorriso torto em mais um adeus. Culpa.
Fronteira de vidro, distância constante. Um telefonema de três em três meses. Ou quatro. Bagunçados meses, ar de asfalto, preocupação.
Água corrente, esmalte roído. Queijo fresco em cima da mesa vazia.
Um café mal engolido, um 'bom dia' em palavras decoradas. O último deles, lugar rotineiro.
Soro tomado, papéis rasgados, planos derretidos. Cheiro de tinta fresca.