quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Tempo de Pipa

Um sorriso, ela me deu. Ser sincero em um mundo governado por caos e complicação mostra um artifício humano surpreendente. Eu, desprovida de qualquer artifício de linguagem - em falta! - me perdi. Não esperava surgir esse preenchimento interno oblíquo, advindo de lábios semi-conhecidos, e sinceros. Foi de verdade, o sorriso.
Um ímpeto de dizer exatamente o que me surgia - e essa verdade-verdadeira seria qualquer algo como: "socorro! estou sentindo tão esquisito!"; uma energia estranha, que distende meus músculos, me agarra as pernas e me puxa para um local subterrâneo, imenso, muito além dos (meus) limites.
Não; não falei. Eu, que sou toda palavras. Toda intensidade. Imaturidade?
Sou qualquer conflito e sou qualquer apego. Qualquer ninguém - eu sou - e me transbordo, eterna, em precipícios de idealização. Mas nada disso importa, afinal, porque sei que você entende o subliminar existente num olhar; no meu.
Olha, me escuta, só um pouquinho: o que eu sinto (o que me impuseram sentir!) também me soa irônico, inconcreto, repelente. Adolescente? Que seja, que não seja, que seja e seja só: sincero.
E é.
O que me golpeia engraçado é que me expresso constantemente por elas - as palavras - e logo hoje, logo elas, me inventaram de fugir. E elas nunca fogem. Sempre presentes, correm coloridas por vasos e veias - corrente sanguínea plena, eu, que me rasguei em mil pedaços pra te escrever, falhei.
Sincera, minha mão sua. A caneta - culpada! - vacila.
Minha mão: sua. E esse calor, e esse chão, e essa verdade que só me faz querer voar.
Como dizer, em meio a toda essa falha - de comunicação, de caneta, de reação?
Eu, que já pensei tanta gente. Que já sorri tanta gente. Que já senti, e, sentindo, já entrei tanta gente. Eu quero; eu vou - mesmo sem antes bater, e mesmo que me barrem. Me dôo - e, algumas vezes, dói.
Você ainda está aí? Escuta, além de dor, queria te dizer que também faz ferver - sorrisos, sangue e expectativa. Mas, espera, não foge, não ainda - já me bastam as palavras!
A verdade sobre mim? Talvez seja isso que precise tanto te falar - e te escutar, a sua. A verdade é que sou branquela, beijo meninas - e meninos, e pessoas - tenho celulite e um mundo de inquietações. E um coração-clichê que me engloba a alma e me impede de mentir. A verdade é que tenho as mãos secas, que suam rápido quando escrevo intenso. Estou escrevendo intenso agora, enquanto, aos poucos, as palavras começam a acordar. E elas me contam - te contam! - que está um calor tremendo, e eu continuo aqui, tremendo, pra te falar que iria além da Europa e das ovelhas, iria além dos franceses e dos palcos mofados, por um instante nosso, num palco nosso; próprio - de meias coloridas e sorrisos sinceros.
Me conta de você?

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