terça-feira, 26 de março de 2013

"Você é ninguém?" Eu sou. "Você é ninguém?" Eu não. "Você é ninguém?" Sou eu.
Ei, sou eu.
Ninguém.

Se eu te pedir, você corre pro teatro comigo? Ando transbordando todas essas minhas sensibilidades, mas, vê se você acredita, olha isso: eu não consigo chorar.
Só no teatro consigo chorar. E preciso tanto.
Você corre pro palco comigo? Só no palco consigo ser. Eu. Ninguém.
Consigo ser e chorar, quando tem palco. Quando tem eu.

Nesse final de semana senti saudades de alguém.
Nesse final de semana me perdi nos sentimentos de alguém. Não soube distinguir. Não soube entender.
Nesse final de semana te esqueci de ser.
Nesse final de semana me esqueci de ser.
Senti saudades de mim.
Me perdi em mim.
Não soube distinguir, entender, ser.
Nesse final de semana fui ao teatro.
E chorei.

O chão, as tintas, os trapos, as letras de música, a argila, a dança, os corpos, os rabiscos, os gritos, os beijos, os chorinhos, as coincidências, o papelão, os papelões.
O balde de água.

O feno, o chão, o vazio, o sujo, a busca, a e-xis-tên-cia. O papel-papelão.
"Vi alguém privado de sentimentos, nulo, sozinho (...), era esticado e leve, era rosado, e não sentia absolutamente nada, um dia na praia começou a correr em direção ao mar, mergulhou, e nunca mais emergiu, eu vi quando se fez em curva e apontou a cabeça para as águas, vi dorso, nuca, brilhos, brilhos na cabeça, pensei: estranho, moveu-se como quem sentiu".

Teatro amassa a gente. Espreme até escorrer sentido, ainda que em uma lágrima só, só.

Mas ninguém viu.

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