sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

É proibido estudar

As ruas do Vale do Swat permanecem caladas, envoltas sobre névoa e silêncio acinzentados enquanto Malala respira errado num hospital britânico.
Malala é toda errada. Assim como seu pai. Assim, como nasceu. Assim como meninas paquistanenses, assim como ela. Malala Yousufzai tem os ossos danificados e alguns olhos - finalmente - voltados para os seus. Iniciada a oscilante guerra dentro de si - os ossos estalando contra os olhos piscando - permanecer acordada lhe proporciona a paz de um teto liso, enquanto seu próprio caos ecoa na rotina seca do Paquistão.
Nesse momento, o que pensa Malala?

Um blog e um codinome transmitidos mundialmente pela BBC formam o grito politizado que escorre incessante dos dedos de uma estudante (uma O QUÊ?) de catorze anos. Escorria; até o dia do ataque. "Merecia morrer", diz a nota emitida pelos integrantes do Talibã, responsáveis pela guerra contra a possibilidade de meninas frequentarem a escola no país; responsáveis pelo tiro que rasgou o ar para atravessar rasgando a cabeça de Malala. Por sorte, a bala serenou, alojando-se em seu pescoço. Irresponsáveis.
Nesse momento, como pensa Malala?

O país protesta contra a tentativa de assassinato. A Al Qaeda protesta contra a falha. O Talibã protesta em nome de Sharia, lei islâmica que diz que "até uma criança pode ser morta se estiver propagando contra o Islã". Pessoas de todo o mundo "conscientizam-se" e protestam, entre o intervalo da novela e o filé de frango, contra o-mundo-perdido-em-que-vivemos.
Nesse momento, por o que protesta Malala?

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(Em homenagem à menina Malala, que recebeu hoje alta do hospital, após 4 meses de internação e cirurgia bem-sucedida no crânio. Texto escrito em outubro de 2012) .

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