terça-feira, 3 de novembro de 2009

em (re)construção

As frutas estavam frescas, e estavam enfeitando a mesa. É, estavam sobre a mesa e, janela afora, o sol pairava no alto, no topo do céu, embora quase alcançável com as mãos, quase trazido aqui, até o chão.
Bem alto. E bem perto.

Em dois cortes transversais, arranca-se a epiderme. Com algumas perfurações, alcança-se o osso. E sente-se fácil, por entre a ternura dos rasgos gelados, toda a fervura que pinga no assoalho. Bem assim, como receita de bolo. O ruim é ter que comê-lo após o prazo de validade. Ruim também é esse tira-manchas, nada eficiente - sempre deixa a desejar com esses resíduos opacos que permanecem. É preferível lavar de uma vez as mãos.

Enxuguei alguns pedaços de pano, ontem. Depois os torci. E torci para que logo secassem.
Choveu mais cedo do que o previsto, outra vez, e lá se foi todo o trabalho da secura. Inundou toda a varanda, e a garganta. Era visível o corante que escorria dos hematomas, rente à pele.

As frutas continuavam enfeitando a mesa. Hoje estavam secas, em sintonia com os raios a iluminar o céu, agora escuro, ressaltado pelas ondas do som dos trovões. Mas eram vistos no alto, no topo do céu.
Bem alto.
E bem perto.

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