terça-feira, 9 de julho de 2013

Constituída no formato ferrugem e em bordas de desgaste, escorre pálida entre tijolos nossa cultura extravasada. Estatizada por falta de verba, estereotipada por cabeludos míopes, pedinte por seu próprio espaço, pedestre pela existência - e pela ausência do contrato - da sua própria casa: a rua. Em uma antiga oficina, artistas encantados e decadentes, em construção, depõem em versos, melodias e performances suas vontades e frustrações. Celebramos, juntos, os feitios desumanos de um cotidiano destituído de cor - desintegração mecanizada a que fomos submetidos. O que acontece quando permitimos? O que esperar de rumores abafados em paredes sós? Sótãos anarco-conduzidos a um espectro esfumaçado de gritos contido-politizados. "Nem esquerda, nem direita": "o negócio é comer cu e boceta!". Cuspimos verdades ásperas sobre direitos humanos, a teoria, e sobre a prática, déspota, pós-graduada em deveres levianos. Sobre evangelismo, reacismo e extremismo, um individualismo coletivizado. Identidades próprias em destruição: valores pisoteados em marcha, ritmada e forte, sobre o chão. Tiramos as roupas para uma nação embandeirada. Escondidos sobre a embaixada, éramos rouquidão, sussurro atormentado; éramos punho fragilizado pela criminalização do escambo de emoções. Em acordes melancólicos: "Caiam com o congresso! Estuprem o (real) vandalismo!" Entre esboços deteriorados e versada pela constante mutação, a cultura atravessava formas destoantes em movimento, uníssono pela polifonia, fanático em poesia e pautado contra todos os anti-liberdade, os anti-expressão e, principalmente, os anti-contradição.

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